A Anatomia de Uma Calúnia ou Como Manchar o Próprio Currículo

Sidney Aguilar Filho, um jovem e ambicioso estudante da Unicamp, em uma aula de história que ministrava, discorrendo sobre o nazismo, ouviu de uma aluna que na fazenda onde vivia existiam tijolos com a cruz suástica estampada. Vislumbrando uma matéria explosiva para sua futura tese de doutorado, resolveu “comprar” a história e foi atrás da verdade que lhe fosse mais conveniente. Dez anos se passaram, segundo suas próprias palavras, para que ele e sua orientadora, Ediógenes Aragão Santos, pudessem montar uma calúnia sobre uma família, chamando-a de tese de doutorado, aplicando a ela um verniz acadêmico e, em 2011, ludibriando uma comissão julgadora da universidade, viram-na aprovada.

Munido do depoimento de um ex-empregado da família, revoltado com sua condição de órfão, entregue a uma instituição do Rio de Janeiro e posteriormente acolhido pela família Rocha Miranda, juntamente com outros meninos na mesma condição, o Sr. Sidney montou o que seria muito mais um roteiro de filme do que uma tese de doutorado considerada séria.

Sob o título “Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945)”, este jovem ambicioso, com a conivência de sua orientadora, em 364 páginas, discorre longamente sobre “o ideário das elites econômicas”, tomando como base uma revista da época , intitulada “Revista da Semana”. Em seu Capítulo III, sob o título “A Cultura da Segregação”, o primarismo atinge seu ápice e o doutorando cita como abuso executado contra crianças na década de 1930 o uso de produtos largamente empregados tais como a alimentação de crianças com leite condensado ou, “dar bebida alcoólica às crianças” (Biotônico Fontoura) e mesmo, segundo palavras dele, “borrifar veneno em seus corpos”, referindo-se ao uso do inseticida FLIT, conforme cópias de páginas da tese, abaixo transcritas.

Clique nas páginas para ampliá-las.

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A verdade contra os ataques do mal intencionado pesquisador e sua (des)orientadora está largamente contraposta nas cartas publicadas neste blog, juntamente com o filme feito pela família com a declaração de diversas pessoas que conviveram à época com os acusados e, extremamente revoltadas, procuraram a família para dar seu testemunho.

Fica a pergunta: Porque o autor de uma tese acusatória como essa, em dez anos de construção da mesma, não se preocupou em ouvir nenhum membro da família acusada, resolvendo ignorar sua existência? As diversas pessoas que deram seu depoimento no vídeo anexo a esse blog moram na mesma cidade que o Sr. Aloisio Silva, único eixo de sustentação da ofensa do pesquisador. Porque ele não se preocupou em entrevistá-las também?

As últimas 30 páginas do trabalho difamante do pesquisador contêm a transcrição da entrevista que o mesmo fez com o Sr.Aloisio e que integram a volumosa tese. Nessas páginas pode-se constatar a clara intenção de induzir o entrevistado a responder o que o entrevistador queria, conduzindo despudoradamente as perguntas e insinuando as respostas com o intuito de justificar sua má fé.

A transcrição é cópia literal do que consta na tese.

À página 348 o entrevistador questiona sobre a professora da escola:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Eu vou, quem

sabe, eu vo… A professora, o senhor tem que

lembrança dela? Ela era muito violenta?

ALOYSIO SILVA: Num era. Era muito boa.

Era gente do bem, a gente respeitava muito ela.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Como é que ela

se chamava mesmo?

ALOYSIO SILVA: Olivia. Dona Olivia.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Dona Olivia.

 

OBS: Veja a entrevista com a cunhada da professora da escola da fazenda Santa Albertina, Olívia Soares Leite Rosas, senhora Amélia Soares, no vídeo.

Até sugestão de pedofilia é feita à página 343 (leia o texto).

SIDNEY AGUILAR FILHO: De nazismo

também… Eh… Seu Aloysio Silva… Eh… Eu

vou fazer uma pergunta pra você se o senhor

não quiser responder, o senhor não responde.

Senhor sabe de algum outro tipo de violência

física, além dos castigos, chicotes, alguma

coisa que algum dos meninos sofreram…?

Abuso sexual, não sofriam?

ALOYSIO SILVA: Não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Senhor nunca

ouviu falar disso?

ALOYSIO SILVA: Não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Nenhum

menino…?

ALOYSIO SILVA: Nada disso.

A respeito da educação que os meninos receberam na escola da fazenda, leia o trecho abaixo:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Éh… o que que o senhor

pode dizer sobre a educação que o senhor foi

submetido quando era menino?

ALOYSIO SILVA: Cumo é que é?

SIDNEY AGUILAR FILHO: O que que o

senhor pode dizer sobre…

ALOYSIO SILVA: Se foi bom…?

SIDNEY AGUILAR FILHO: É. Sobre a

educação.

ALOYSIO SILVA: Não, pela educação achei

muito boa, viu. Eu aprendi a respeita todo

mundo… Em todo lugar que eu chegava já

peguei todo cunhecimento daí… E tanto que era

respeitado, tudo era respeitado pela vizinhança,

tudo…

Para induzir a resposta afirmativa sobre racismo o entrevistador pergunta:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Mas o senhor é…

Quando de menino, quando o senhor saiu lá do

orfanato e o senhor veio pra cá. Hoje o senhor

olhando pra trás, o senhor acha que foi vitima

de racismo lá como menino?

ALOYSIO SILVA: Fui, fui.

SIDNEY AGUILAR FILHO: O senhor acha

que foi escolhido lá porque o senhor era negro?

ALOYSIO SILVA: O major escolhia pela

ligereza que a gente tinha né?

SIDNEY AGUILAR FILHO: Pela ligereza…

ALOYSIO SILVA: Eu fiz, ah, teste de futebol,

não fui um profissional por causa, fugia do

clube pra i bebe na rua. Bebi todo esse tempo.

 

Não satisfeito com a resposta o entrevistador ataca novamente:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Hm… Não tem

problema. Desses 50, seu Aloysio Silva,

quantos eram, nos termos da época, preto e

pardo? Ou quantos eram brancos?

ALOYSIO SILVA: Ahh tem uma misturança

di genti.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Então, mas dos

50, quantos eram branquinhos, branquinhos, de

pele clara que nem a minha assim…?

ALOYSIO SILVA: Ah num… Se tivesse era

muito pouquinho…

SIDNEY AGUILAR FILHO: Mas dos 50,

menos de 10?

ALOYSIO SILVA: É, mais ou menos por aí…

SIDNEY AGUILAR FILHO: Seu Aloysio

Silva havia tratamento diferenciado dos

meninos brancos pros meninos pretos?

ALOYSIO SILVA: Não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Tudo era tratado

do mesmo jeito?

ALOYSIO SILVA: Tudo igual.

 

Às páginas 351 e 357, Aloisio revela a razão de toda a sua mágoa sobre o abandono no orfanato, bem explorada pelo pesquisador:

SIDNEY AGUILAR FILHO: O Senhor se

considera injustiçado pelo o que aconteceu

quando o senhor era pequeno, seu Aloysio

Silva?

ALOYSIO SILVA: Considero.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Por quê?

ALOYSIO SILVA: Uma por caus’que eu num

conhecia mãe nem o pai… que era um direito

que eu tinha, né?

Então é isso

que eu tinha pra vim te contá pra esse livro.

Pa sabê porque que me abandonou,

porque… não é? É um direito que eu tenho.

Apesar dos motivos expostos, o pesquisador insiste (pág. 352):

SIDNEY AGUILAR FILHO: Então o senhor

se sente injustiçado por ter sido separado da

mãe?

ALOYSIO SILVA: Certo.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Por ter sido

explorado no trabalho não?

ALOYSIO SILVA: Não. Porque até quando eu

sai dele em 1970, eu agradeci seu Renato “oi eu

fico muito agradecido de me educa, acaba de

mi educa e mi ensina a trabaia”

Na tentativa de provar que a família trouxera os meninos para servir de mão de obra escrava, o doutorando pergunta (pág. 361):

SIDNEY AGUILAR FILHO: E na época que o

senhor era menino, quem que trabalhava nessas

fazendas, nessa fazenda Cruzeiro do Sul?

ALOYSIO SILVA: Ah, ali trabalhô muita

gente, não.

SIDNEY AGUILAR FILHO:. Mas não eram só

meninos trazidos?

ALOYSIO SILVA: Não, não. Era gente que

pedia colocação, tudo. Aí trazia a família e

criava a família ali.

Finalmente, à página 362, o “Doutor” se revela por inteiro:

ALOYSIO SILVA: Me diga uma coisa: essa

promessa que o majó falo pro juiz que ia

cumpri, essa promessa com, criá esse cinqüenta

muleque aqui, que nem troxe. Eu num, não

entendi nada disso aí.

SIDNEY AGUILAR FILHO: O senhor está

querendo sabre o que eu acho?

ALOYSIO SILVA: Hã?

SIDNEY AGUILAR FILHO:. É isso?

ALOYSIO SILVA: É.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Eu acho que

vocês foram explorados. Eu acho, seu Aloysio

Silva, sinceramente. É…O senhor pode, o

senhor pode discordar de mim inclusive…

ALOYSIO SILVA: Não, não discordo não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Mas acho… mas

eu acho… eu acho que alguns homens muito

ricos do Rio de Janeiro, muito ricos…

ALOYSIO SILVA: Porque o rico memo ali era

a mulher dele, a dona Aurinha.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Bom, olha: os

Rocha Miranda, eles eram donos, assim, de

grandes hotéis,de construtoras…

ALOYSIO SILVA: Pois é. Essa região foi o pai

dele que compro.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Sim, o Luis.

ALOYSIO SILVA: É.

SIDNEY AGUILAR FILHO: O Luis. Então,

era uma das famílias mais poderosas do Rio de

Janeiro, na época.

ALOYSIO SILVA: Certo.

SIDNEY AGUILAR FILHO: E o Rio de

Janeiro tava crescendo muito, e pra mim, eles

estavam querendo pegá aquele pedaço da

Glória, do Flamengo até Copacabana e livrá

aquele pedaço de pobre e…

ALOYSIO SILVA: É.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Principalmente,

de menino órfão. E juntaram a vontade de tirar

vocês de lá com a vontade de por vocês pra

trabalhar aqui…

ALOYSIO SILVA: Virá escravo deles aí.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Com… Eu acho

que, eu acho que juntou ainda o fato de que

acreditavam, talvez até acreditassem que

estavam fazendo o que era certo. Apesar deu

achar que não. Mas o fato é que, a impressão

que eu tenho é que vocês, realmente, foram…

 

Façam os leitores uma avaliação isenta das reais intenções do pesquisador.

O link para toda a entrevista feita em 2009 é: https://www.sugarsync.com/pf/D8410778_68932359_6503906

A íntegra da citada tese, para quem dispuser de tempo para ler aleivosias está no link que segue:

https://www.sugarsync.com/pf/D8410778_68932359_287084

Com tão momentoso assunto em mãos, diversos órgãos de mídia caíram como urubus na carniça, inescrupulosamente, em busca de angariar leitores e audiência. Assim foi com a Revista de História da Biblioteca Nacional (veja carta resposta abaixo), o jornalista Élio Gaspari , que em sua coluna nos jornais Folha de São Paulo e O Globo, adotou a maledicência da citada revista, a TV Record, que por diversos dias sustentou uma reportagem difamatória, como é de seu feitio, e outros órgãos de imprensa com menor abrangência. O único veículo de mídia que procurou a família com intenção de revelar a verdade, foi o jornal Folha de São Paulo, através do jornalista André Caramante, que nos entrevistou, mas mesmo assim, em sua reportagem não foi divulgada a inteira defesa que fizemos das agressões sofridas.

Uma carta foi enviada ao Reitor da Universidade de Campinas (leia texto abaixo) protestando contra a escandalosa agressão sem direito de defesa e dizendo da surpresa da família quanto à superficialidade da comissão julgadora da tese que a aceitou sem os questionamentos que seriam óbvios.

Sidney Aguilar em conjunto com uma produtora de vídeo do Rio de Janeiro (Produtora Giros) promoveu a confecção de um vídeo a ser lançado, intitulado “Menino 23”, se utilizando do mesmo depoimento e com os mesmos argumentos de que toda a mídia se valeu, denotando a amarração dos fatos com sua tese. A família também enviou carta à citada produtora alertando-a dos riscos que incorreria ao divulgar o vídeo ofensivo, incluindo-a como ré num processo de calúnia e difamação.

Josephine Tey, pseudônimo de Elizabeth Mackintosh, escritora escocesa, autora, entre outros, do livro “A Filha do Tempo”, utilizou a frase de autor desconhecido “A verdade é filha do tempo”.

Em sua coluna no jornal O Globo, recentemente, o escritor Luiz Fernando Veríssimo cita a seguinte frase:

“Os fatos que geram a História são alterados pela má memória, pela interpretação conveniente, pela ornamentação fantasiosa, por tudo que vem com o tempo depois do fato. Com o tempo, o mito vira realidade e a realidade vira mito. Mas é só dar mais tempo ao tempo que a verdade aparecerá.”