TRÊS ANOS DEPOIS DE UM VÍDEO PRONTO A PRODUTORA GIROS NOS PROCURA PARA DEPOIMENTO

A produtora GIROS do Rio de Janeiro, embalada no sensacionalismo da tese do pseudo pesquisador Sidnei Aguilar, elaborou um filme intitulado MENINO 23 há mais de três anos. Diante de uma carta datada de 12 de dezembro de 2012, onde acusávamos a mesma de querer auferir vantagens financeiras com o lançamento de tal documentário, com depoimentos viciados e unilaterais, ameaçando-a a ter que responder judicialmente por tal ato, o lançamento do documentário ficou suspenso por todo esse tempo. Em 07/11/2015, fomos procurados pelo proprietário de tal produtora, sr. Belisario Franca, querendo nosso depoimento, certamente para dar um verniz de imparcialidade ao documentário e lançá-lo no circuito comercial, porém se negando a nos revelar o teor do mesmo. Diante da evidência de que o documentário já estava pronto com todo seu veneno acusatório, só necessitando nosso depoimento para respaldá-lo, nos negamos a depor e enviamos um email cujo teor se lê abaixo.

Sr. Belisario

Recebi com espanto seu telefonema TRÊS ANOS depois do envio de minha correspondência à sua produtora. Causa-me estranheza que depois de tanto tempo, com seu documentário certamente pronto, o senhor se interesse em inserir no mesmo, obviamente para se respaldar contra um processo, minhas declarações em defesa de minha família. Ocorre que seu trabalho já nasceu contaminado pelo vírus do sensacionalismo, o mesmo vírus que moveu o pretenso pesquisador, Sidnei Aguilar, a defender essa tese, que mais se prestaria a um roteiro de filme sensacionalista, e daí, certamente, o seu interesse.

A sua negativa em permitir que eu conheça o teor do documentário é, por si só, uma confissão da parcialidade do mesmo. Muito mais valiosos que minhas declarações, são os depoimentos absolutamente espontâneos, sinceros e revoltados dados pelos contemporâneos de meus familiares à época dos fatos citados, e que são de domínio público divulgado no canal Youtube. Se sua produtora, diferentemente do “roteirista” Aguilar, quiser realmente divulgar quem foi e o que fez a família Rocha Miranda em suas fazendas no interior de São Paulo, que comece entrevistando a todas as pessoas que depuseram em meu vídeo, e não só a elas, pois a Campina do Monte Alegre é residência de dezenas de pessoas que certamente gostariam de falar quem foi Renato Rocha Miranda Filho e sua família e a importância que ela teve para aquela cidade. Sugiro que insista, em suas entrevistas, na tese de escravidão dos meninos provenientes da Casa da Roda, do Rio de Janeiro, e ouça o que elas terão a dizer. Não temos nada de que nos envergonhemos, Sr. Belisario, temos, isso sim, um orgulho enorme da obra que minha família desenvolveu naquela região de São Paulo. Mas talvez seu interesse esmoreça, pois essa verdade não gera receita, não é mesmo?

O teor desse email será transcrito em nosso blog de defesa da família Rocha Miranda.

Atenciosamente,

Mauricio Rocha Miranda

Declaração de Carolina Guimarães, neta de Renato Guimarães, um dos meninos do colégio na fazenda Santa Albertina

‎” Exemplos do que gostaríamos / poderíamos seguir , partem de pessoas qual tomamos por admiração. Pessoas que além de serem admiradas por nós , mais uma vez nos admira sendo admirada por outros demais ( e muitos )”. Hoje , meu avô não pode agradecer mais uma vez á Família Rocha Miranda , por tudo que a ele fizeram, e certamente se tivesse mais uma oportunidade , mais uma vez tornaria-se grato. Por acima de tudo , lhe “criar” e educar com tanta honestidade integridade. Meu avô , um homem admirável , e ele teve grandes exemplos a serem seguidos por ele, uma ” família” que o escolheu. E foi assim , por que do grande homem que meu avô foi , tentamos humildemente ter um pouco dele. Obrigado Mauricio Rocha Miranda , Ângela , enfim , á vocês que tem orgulho do sobrenome que carregam , e que representam essas pessoas que não foram somente importante dentro da família de vocês , mas também de uma “família torta” que orgulha-se de um dia ter a honra de ter vivido ao lado de quem deixou um sentimento qual chamamos de saudade.

DESCOMPROMISSO

DESCOMPROMISSO

A Revista de História da Biblioteca Nacional não cumpriu o compromisso de seus diretores de publicar a carta com o título “DIREITO DE RESPOSTA”, em destaque, na edição nº 90, de março, conforme combinado em reunião no mês de janeiro, só o fazendo na seção de cartas da mesma edição, sem título, para tentar descaracterizar o reconhecimento daquela revista do caráter ofensivo de sua reportagem da edição nº88. Também alterou o texto da carta ao retirar o destaque em negrito do endereço desse blog. O argumento de que a reportagem não trata da família como um todo chega a ser ridículo, pois a reportagem qualifica-nos como “família nazista”. Iguala-se, assim, ao  mais rasteiro comportamento visto ultimamente na imprensa nacional. A família Rocha Miranda sente-se decepcionada com o pouco comprometimento com a verdade desse veículo que se pretende um divulgador da História Brasileira.

A Anatomia de Uma Calúnia ou Como Manchar o Próprio Currículo

Sidney Aguilar Filho, um jovem e ambicioso estudante da Unicamp, em uma aula de história que ministrava, discorrendo sobre o nazismo, ouviu de uma aluna que na fazenda onde vivia existiam tijolos com a cruz suástica estampada. Vislumbrando uma matéria explosiva para sua futura tese de doutorado, resolveu “comprar” a história e foi atrás da verdade que lhe fosse mais conveniente. Dez anos se passaram, segundo suas próprias palavras, para que ele e sua orientadora, Ediógenes Aragão Santos, pudessem montar uma calúnia sobre uma família, chamando-a de tese de doutorado, aplicando a ela um verniz acadêmico e, em 2011, ludibriando uma comissão julgadora da universidade, viram-na aprovada.

Munido do depoimento de um ex-empregado da família, revoltado com sua condição de órfão, entregue a uma instituição do Rio de Janeiro e posteriormente acolhido pela família Rocha Miranda, juntamente com outros meninos na mesma condição, o Sr. Sidney montou o que seria muito mais um roteiro de filme do que uma tese de doutorado considerada séria.

Sob o título “Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945)”, este jovem ambicioso, com a conivência de sua orientadora, em 364 páginas, discorre longamente sobre “o ideário das elites econômicas”, tomando como base uma revista da época , intitulada “Revista da Semana”. Em seu Capítulo III, sob o título “A Cultura da Segregação”, o primarismo atinge seu ápice e o doutorando cita como abuso executado contra crianças na década de 1930 o uso de produtos largamente empregados tais como a alimentação de crianças com leite condensado ou, “dar bebida alcoólica às crianças” (Biotônico Fontoura) e mesmo, segundo palavras dele, “borrifar veneno em seus corpos”, referindo-se ao uso do inseticida FLIT, conforme cópias de páginas da tese, abaixo transcritas.

Clique nas páginas para ampliá-las.

glaxo glaxo2 glaxo3 glaxo4 glaxo5

 

A verdade contra os ataques do mal intencionado pesquisador e sua (des)orientadora está largamente contraposta nas cartas publicadas neste blog, juntamente com o filme feito pela família com a declaração de diversas pessoas que conviveram à época com os acusados e, extremamente revoltadas, procuraram a família para dar seu testemunho.

Fica a pergunta: Porque o autor de uma tese acusatória como essa, em dez anos de construção da mesma, não se preocupou em ouvir nenhum membro da família acusada, resolvendo ignorar sua existência? As diversas pessoas que deram seu depoimento no vídeo anexo a esse blog moram na mesma cidade que o Sr. Aloisio Silva, único eixo de sustentação da ofensa do pesquisador. Porque ele não se preocupou em entrevistá-las também?

As últimas 30 páginas do trabalho difamante do pesquisador contêm a transcrição da entrevista que o mesmo fez com o Sr.Aloisio e que integram a volumosa tese. Nessas páginas pode-se constatar a clara intenção de induzir o entrevistado a responder o que o entrevistador queria, conduzindo despudoradamente as perguntas e insinuando as respostas com o intuito de justificar sua má fé.

A transcrição é cópia literal do que consta na tese.

À página 348 o entrevistador questiona sobre a professora da escola:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Eu vou, quem

sabe, eu vo… A professora, o senhor tem que

lembrança dela? Ela era muito violenta?

ALOYSIO SILVA: Num era. Era muito boa.

Era gente do bem, a gente respeitava muito ela.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Como é que ela

se chamava mesmo?

ALOYSIO SILVA: Olivia. Dona Olivia.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Dona Olivia.

 

OBS: Veja a entrevista com a cunhada da professora da escola da fazenda Santa Albertina, Olívia Soares Leite Rosas, senhora Amélia Soares, no vídeo.

Até sugestão de pedofilia é feita à página 343 (leia o texto).

SIDNEY AGUILAR FILHO: De nazismo

também… Eh… Seu Aloysio Silva… Eh… Eu

vou fazer uma pergunta pra você se o senhor

não quiser responder, o senhor não responde.

Senhor sabe de algum outro tipo de violência

física, além dos castigos, chicotes, alguma

coisa que algum dos meninos sofreram…?

Abuso sexual, não sofriam?

ALOYSIO SILVA: Não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Senhor nunca

ouviu falar disso?

ALOYSIO SILVA: Não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Nenhum

menino…?

ALOYSIO SILVA: Nada disso.

A respeito da educação que os meninos receberam na escola da fazenda, leia o trecho abaixo:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Éh… o que que o senhor

pode dizer sobre a educação que o senhor foi

submetido quando era menino?

ALOYSIO SILVA: Cumo é que é?

SIDNEY AGUILAR FILHO: O que que o

senhor pode dizer sobre…

ALOYSIO SILVA: Se foi bom…?

SIDNEY AGUILAR FILHO: É. Sobre a

educação.

ALOYSIO SILVA: Não, pela educação achei

muito boa, viu. Eu aprendi a respeita todo

mundo… Em todo lugar que eu chegava já

peguei todo cunhecimento daí… E tanto que era

respeitado, tudo era respeitado pela vizinhança,

tudo…

Para induzir a resposta afirmativa sobre racismo o entrevistador pergunta:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Mas o senhor é…

Quando de menino, quando o senhor saiu lá do

orfanato e o senhor veio pra cá. Hoje o senhor

olhando pra trás, o senhor acha que foi vitima

de racismo lá como menino?

ALOYSIO SILVA: Fui, fui.

SIDNEY AGUILAR FILHO: O senhor acha

que foi escolhido lá porque o senhor era negro?

ALOYSIO SILVA: O major escolhia pela

ligereza que a gente tinha né?

SIDNEY AGUILAR FILHO: Pela ligereza…

ALOYSIO SILVA: Eu fiz, ah, teste de futebol,

não fui um profissional por causa, fugia do

clube pra i bebe na rua. Bebi todo esse tempo.

 

Não satisfeito com a resposta o entrevistador ataca novamente:

SIDNEY AGUILAR FILHO: Hm… Não tem

problema. Desses 50, seu Aloysio Silva,

quantos eram, nos termos da época, preto e

pardo? Ou quantos eram brancos?

ALOYSIO SILVA: Ahh tem uma misturança

di genti.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Então, mas dos

50, quantos eram branquinhos, branquinhos, de

pele clara que nem a minha assim…?

ALOYSIO SILVA: Ah num… Se tivesse era

muito pouquinho…

SIDNEY AGUILAR FILHO: Mas dos 50,

menos de 10?

ALOYSIO SILVA: É, mais ou menos por aí…

SIDNEY AGUILAR FILHO: Seu Aloysio

Silva havia tratamento diferenciado dos

meninos brancos pros meninos pretos?

ALOYSIO SILVA: Não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Tudo era tratado

do mesmo jeito?

ALOYSIO SILVA: Tudo igual.

 

Às páginas 351 e 357, Aloisio revela a razão de toda a sua mágoa sobre o abandono no orfanato, bem explorada pelo pesquisador:

SIDNEY AGUILAR FILHO: O Senhor se

considera injustiçado pelo o que aconteceu

quando o senhor era pequeno, seu Aloysio

Silva?

ALOYSIO SILVA: Considero.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Por quê?

ALOYSIO SILVA: Uma por caus’que eu num

conhecia mãe nem o pai… que era um direito

que eu tinha, né?

Então é isso

que eu tinha pra vim te contá pra esse livro.

Pa sabê porque que me abandonou,

porque… não é? É um direito que eu tenho.

Apesar dos motivos expostos, o pesquisador insiste (pág. 352):

SIDNEY AGUILAR FILHO: Então o senhor

se sente injustiçado por ter sido separado da

mãe?

ALOYSIO SILVA: Certo.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Por ter sido

explorado no trabalho não?

ALOYSIO SILVA: Não. Porque até quando eu

sai dele em 1970, eu agradeci seu Renato “oi eu

fico muito agradecido de me educa, acaba de

mi educa e mi ensina a trabaia”

Na tentativa de provar que a família trouxera os meninos para servir de mão de obra escrava, o doutorando pergunta (pág. 361):

SIDNEY AGUILAR FILHO: E na época que o

senhor era menino, quem que trabalhava nessas

fazendas, nessa fazenda Cruzeiro do Sul?

ALOYSIO SILVA: Ah, ali trabalhô muita

gente, não.

SIDNEY AGUILAR FILHO:. Mas não eram só

meninos trazidos?

ALOYSIO SILVA: Não, não. Era gente que

pedia colocação, tudo. Aí trazia a família e

criava a família ali.

Finalmente, à página 362, o “Doutor” se revela por inteiro:

ALOYSIO SILVA: Me diga uma coisa: essa

promessa que o majó falo pro juiz que ia

cumpri, essa promessa com, criá esse cinqüenta

muleque aqui, que nem troxe. Eu num, não

entendi nada disso aí.

SIDNEY AGUILAR FILHO: O senhor está

querendo sabre o que eu acho?

ALOYSIO SILVA: Hã?

SIDNEY AGUILAR FILHO:. É isso?

ALOYSIO SILVA: É.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Eu acho que

vocês foram explorados. Eu acho, seu Aloysio

Silva, sinceramente. É…O senhor pode, o

senhor pode discordar de mim inclusive…

ALOYSIO SILVA: Não, não discordo não.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Mas acho… mas

eu acho… eu acho que alguns homens muito

ricos do Rio de Janeiro, muito ricos…

ALOYSIO SILVA: Porque o rico memo ali era

a mulher dele, a dona Aurinha.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Bom, olha: os

Rocha Miranda, eles eram donos, assim, de

grandes hotéis,de construtoras…

ALOYSIO SILVA: Pois é. Essa região foi o pai

dele que compro.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Sim, o Luis.

ALOYSIO SILVA: É.

SIDNEY AGUILAR FILHO: O Luis. Então,

era uma das famílias mais poderosas do Rio de

Janeiro, na época.

ALOYSIO SILVA: Certo.

SIDNEY AGUILAR FILHO: E o Rio de

Janeiro tava crescendo muito, e pra mim, eles

estavam querendo pegá aquele pedaço da

Glória, do Flamengo até Copacabana e livrá

aquele pedaço de pobre e…

ALOYSIO SILVA: É.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Principalmente,

de menino órfão. E juntaram a vontade de tirar

vocês de lá com a vontade de por vocês pra

trabalhar aqui…

ALOYSIO SILVA: Virá escravo deles aí.

SIDNEY AGUILAR FILHO: Com… Eu acho

que, eu acho que juntou ainda o fato de que

acreditavam, talvez até acreditassem que

estavam fazendo o que era certo. Apesar deu

achar que não. Mas o fato é que, a impressão

que eu tenho é que vocês, realmente, foram…

 

Façam os leitores uma avaliação isenta das reais intenções do pesquisador.

O link para toda a entrevista feita em 2009 é: https://www.sugarsync.com/pf/D8410778_68932359_6503906

A íntegra da citada tese, para quem dispuser de tempo para ler aleivosias está no link que segue:

https://www.sugarsync.com/pf/D8410778_68932359_287084

Com tão momentoso assunto em mãos, diversos órgãos de mídia caíram como urubus na carniça, inescrupulosamente, em busca de angariar leitores e audiência. Assim foi com a Revista de História da Biblioteca Nacional (veja carta resposta abaixo), o jornalista Élio Gaspari , que em sua coluna nos jornais Folha de São Paulo e O Globo, adotou a maledicência da citada revista, a TV Record, que por diversos dias sustentou uma reportagem difamatória, como é de seu feitio, e outros órgãos de imprensa com menor abrangência. O único veículo de mídia que procurou a família com intenção de revelar a verdade, foi o jornal Folha de São Paulo, através do jornalista André Caramante, que nos entrevistou, mas mesmo assim, em sua reportagem não foi divulgada a inteira defesa que fizemos das agressões sofridas.

Uma carta foi enviada ao Reitor da Universidade de Campinas (leia texto abaixo) protestando contra a escandalosa agressão sem direito de defesa e dizendo da surpresa da família quanto à superficialidade da comissão julgadora da tese que a aceitou sem os questionamentos que seriam óbvios.

Sidney Aguilar em conjunto com uma produtora de vídeo do Rio de Janeiro (Produtora Giros) promoveu a confecção de um vídeo a ser lançado, intitulado “Menino 23”, se utilizando do mesmo depoimento e com os mesmos argumentos de que toda a mídia se valeu, denotando a amarração dos fatos com sua tese. A família também enviou carta à citada produtora alertando-a dos riscos que incorreria ao divulgar o vídeo ofensivo, incluindo-a como ré num processo de calúnia e difamação.

Josephine Tey, pseudônimo de Elizabeth Mackintosh, escritora escocesa, autora, entre outros, do livro “A Filha do Tempo”, utilizou a frase de autor desconhecido “A verdade é filha do tempo”.

Em sua coluna no jornal O Globo, recentemente, o escritor Luiz Fernando Veríssimo cita a seguinte frase:

“Os fatos que geram a História são alterados pela má memória, pela interpretação conveniente, pela ornamentação fantasiosa, por tudo que vem com o tempo depois do fato. Com o tempo, o mito vira realidade e a realidade vira mito. Mas é só dar mais tempo ao tempo que a verdade aparecerá.”

Carta à Revista de História da Biblioteca Nacional

Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2013.

À Revista de História da Biblioteca Nacional.

Tendo em vista a matéria parcial e descontextualizada de autoria de Alice Melo, publicada
na edição nº88 de janeiro de 2013, a família Rocha Miranda, acusada levianamente por essa
revista de pertencer a um núcleo nazista no estado de São Paulo, e de escravizar crianças
oriundas de um orfanato do Rio de Janeiro, vem a público para exercer o direito de resposta a
fim de esclarecer os fatos que desinformadamente foram expostos na reportagem. Repelimos
veementemente tais afirmações, pois quem conviveu com Sergio, Osvaldo, Renato e Otavio,
filhos de Luiz da Rocha Miranda, sabe e atesta a correção de princípios de nossa família, não
tendo jamais a intenção e muito menos a necessidade de tais práticas.

A jornalista baseou sua matéria numa tese de doutorado premeditadamente acusatória
e sem o direito básico do contraditório, formulada por Sidney Aguillar Filho, pesquisador
da Unicamp tendo como orientadora a Dra. Ediógenes Aragão Santos, tendo tal tese sido
surpreendentemente aprovada por uma banca examinadora que não viu nada demais em um
trabalho de onde foi suprimido completamente o direito à defesa dos acusados.

Quem tem acesso à citada tese constata a forma pueril e inconsistente dos argumentos usados
pelo pesquisador, que acusa em seu Capítulo III, “A Cultura da Segregação”, a sociedade
de então de “práticas autoritárias” contra crianças, como “dar bebida alcoólica para
crianças (Biotônico Fontoura), e borrifar veneno sobre seus corpos”, referindo-se ao uso do
inseticida FLIT, largamente utilizado naquele tempo. É de se notar, que à época da tomada
dos depoimentos feita pelo pesquisador na cidade de Campina do Monte Alegre, onde eu
residia, um vilarejo de cinco mil habitantes, não ocorreu ao mesmo que a família quisesse se
manifestar sobre o assunto e em momento algum me procurou, resolvendo ignorar nossa
existência. Se o tivesse feito, o autor da tese veria demolidos à exaustão seus argumentos
falaciosos a respeito de nossa família, e isso não seria interessante para quem, como ele,
vislumbrava tão somente as luzes dos holofotes. Surpreendentemente, essa tese de doutorado
se candidatou ao prêmio Capes de Teses.

Alice Melo, a autora da matéria de sua revista, pegou carona no sensacionalismo do assunto
e, demonstrando desapreço pelo rigor jornalístico, apesar de tê-la elaborado durante meses,
somente me procurou para que emitisse a opinião da família poucos dias antes do fechamento
da edição de janeiro, não levando em conta a necessidade de tempo que precisaríamos para
formular a contraposição com possíveis provas e testemunhos. Não é verdadeira a afirmação
de que não quisemos dar declarações à revista. Pelo contrário, insisti com ela que tinha
enorme interesse em contestar as inverdades assacadas contra minha família e apenas solicitei
mais tempo para amealhar testemunhos e provas da má fé até então somente da tese de
doutorado, pois não tinha conhecimento do teor da reportagem, além de consultar a família
e advogados sobre como proceder. Agiu, similarmente ao Sr. Aguillar Filho, que teve dez anos
para elaborar sua tese e em todo esse tempo evitou colher nosso depoimento. A verdade é
que assuntos desse tipo, nos dias de hoje, onde se busca o “politicamente correto” a qualquer
custo, tem repercussão imediata e concentra as atenções, o que certamente procuraram o
pesquisador e a jornalista.

As propriedades da família em São Paulo, foram adquiridas por meu bisavô, Luiz da Rocha
Miranda, no início do século passado, com a finalidade de servir de campos de caça.

Posteriormente foram desenvolvidos por três de seus filhos, Osvaldo, Otavio e Sergio, projetos
agropecuários que muito se destacaram, tendo meu tio avô Osvaldo, sido um dos pioneiros na
implantação de técnicas de ensilamento de grãos no Brasil, devido ao seu grande interesse por
métodos modernos de criação de gado trazidos da Europa e dos Estados Unidos.

Esse mesmo Osvaldo, com uma visão social aguda, criou em suas terras uma escola
profissionalizante, levando do Rio de Janeiro, onde vivia a família, meninos abandonados
na Casa da Roda da Irmandade da Misericórdia, incentivado pelo governo, que via nessas
escolas uma forma de livrar tais órfãos do abandono, dando-lhes uma oportunidade na vida,
coisa que, certamente, a Casa da Roda não lhes proporcionaria. Os meninos foram trazidos
do orfanato estranhamente com números, embora na fazenda eles fossem chamados pelos
nomes. O uso da palmatória, “abuso” explorado em caixa alta pelo título da reportagem, era
uma prática comum nas escolas da década de 30, mas é absolutamente mentirosa a afirmação
de maus tratos a esses meninos, como declarou à jornalista um dos oriundos da escola,
Argemiro Santos, que Alice Melo classifica de “escravo na fazenda”, apesar do mesmo declarar
textualmente não sentir-se escravizado. É claro que nos dias de hoje o uso de palmatória
seria condenado por qualquer um. Tais meninos aprenderam na fazenda todas as atividades
agropecuárias das quais se utilizaram como profissionais ao longo de suas vidas, na mesma
propriedade, como empregados normais. Convivi com Aloísio Silva, eixo da tese de doutorado
e da reportagem da revista, durante muitos anos na fazenda Santa Albertina e conheço sua
história muito bem. Aloísio, apesar de aluno da escola, praticamente foi criado na casa de
Otacílio Guerra, antigo funcionário da família, na gleba chamada Vira Machado. Destacou-se
na lida do campo como um exímio domador de cavalos, ofício aprendido na fazenda e não na
Casa da Roda, certamente. Estranhamente trabalhou a vida toda para a família que, segundo a
reportagem, supostamente o “escravizara”, ganhando salário como qualquer empregado.

Afirmar que os meninos da escola eram tratados de forma diferente dos demais filhos dos
empregados, é constatar o óbvio. Eles estavam na escola sob um contrato de tutelato e
qualquer coisa que acontecesse a eles seria responsabilidade de meu tio avô Osvaldo. Por
isso a presença de tutores citada por Aloísio Silva. A jornalista explora, de forma tendenciosa,
o fato de, ao término dos anos de estudos na escola, os alunos terem sido “liberados”, nas
palavras de Aloísio Silva, dando a entender que a partir daí houve a libertação dos escravos da
fazenda, quando tão somente haviam terminado seus estudos.

Com relação à fazenda Cruzeiro do Sul, a associação da marca da fazenda com a cruz gamada,
que tanto aterroriza as pessoas desavisadas nos dias de hoje, tinha, sim relação com o nazismo
tal como era conhecido no início da década de 30, quando Hitler ainda não havia perpetrado
as barbaridades conhecidas e execradas por todos. O partido nazista tinha simpatizantes
também no Brasil da época e meu tio avô Sergio era um deles. Ninguém se escandalizava,
nos idos de 30, com tais ideias. Tão logo se tomou conhecimento dos atos cometidos por
Hitler na Europa, ele os condenou e imediatamente mudou sua marca. Sergio era um homem
extremamente culto e educado e temos depoimentos de alguns ex-empregados ou parentes
deles que o conheceram e que se indignaram quando souberam de tais acusações. Estamos
gravando um vídeo com tais depoimentos. Uma dessas pessoas é a filha do administrador de
Sergio, Sr. Pedro Stedile, que era oleiro, e que fabricou os tais tijolos “aterrorizantes” com a
marca da fazenda. Ela, Sra. Aparecida Guido, conta com detalhes como era a vida na fazenda
e se revolta quando se fala em “núcleo nazista”. Cita as visitas que o poeta Guilherme de
Almeida fazia a meu tio avô, bem como o conhecido milionário carioca Jorginho Guinle, entre
outras figuras conhecidas da sociedade brasileira, todos amigos de Sergio.

O ramo da família de meu avô, Renato, realmente participava da AIB (Aliança Integralista
Brasileira). Pergunto: Por que o espanto? Era crime à época? Pessoas proeminentes da

sociedade de então, como o filósofo e jurista Miguel Reale e o bispo Don Helder Câmara, que
chegou a classificar as ações de assistência da AIB como “o maior programa assistencialista
cristão da sociedade brasileira”, eram simpatizantes do Integralismo. O próprio Getúlio
comungava dos ideais integralistas que tinham um viés nacionalista exacerbado, mas associar
essa participação no partido integralista a supostas práticas eugenistas de minha família vai
um longo percurso de má intenção.

Meu avô Renato, era um empresário renomado no Rio de Janeiro daquela época e tinha
negócios com diversos industriais alemães, como de resto também o governo de Getúlio
Vargas. Os negócios com a fábrica alemã Krupp AG eram uma necessidade do governo
brasileiro, dadas as qualidades do aço alemão, e meu avô possivelmente tenha intermediado
diversos negócios do governo com aquele fabricante. Nota-se na reportagem uma clara
intenção de associar os negócios de minha família com outras atividades dos Krupp. Diz o
texto: “coincidentemente, os Rocha Miranda tinham relações comerciais com essas empresas.”
E prossegue fazendo um link velado: “Alfried, em 1948, foi condenado por exploração de mão
de obra escrava na Alemanha”

É preciso que se tenha sempre em mente que os fatos citados na matéria se passaram no
início da década de 1930, quando o governo de Getulio Vargas mantinha relações estreitas
com os países europeus, principalmente a Alemanha, muito mais do que com os Estados
Unidos.

Três décadas depois, no início da década de 60, um procurador dos Krupp, Sr. Cristhian Stein,
contatou os herdeiros de meu tio avô, Otavio, falecido então há mais de vinte anos, querendo
comprar para o Sr. Arndt Krupp Von Bohlen, sua fazenda no interior de São Paulo, o que
ocorreu, não havendo, além disso, nenhuma ligação de nossa família com a família Krupp,
como quis a jornalista associar em sua matéria.

Renato Rocha Miranda Filho, sobrinho de Osvaldo e Sérgio, recebeu como herança as terras
de seus tios e deu continuidade ao belo trabalho nas fazendas, tornando-se um criador de
destaque de gado da raça Nelore, como atesta o amigo Raulf Nassar no site de sua fazenda
Guatambu (www.guatambu.com.br), comprada de meu tio na década de 1960.

Renato, em 1944 foi para os Estados Unidos fazer um curso de pilotagem militar em aviões
Catalina PBY5A na base aérea de Waco, no Texas, como atesta o diploma que hoje tenho
em meu escritório. Cabe então perguntar: Que família nazista permitiria que um de seus
membros seguisse carreira militar nos EUA para combater submarinos alemães na costa
brasileira? Que homem de formação racista deixaria em testamento mais da metade de seu
patrimônio para o filho de um empregado seu, seu afilhado Manoel das Graças Araujo, cujos
filhos, hoje proprietários de parte desmembrada da fazenda Santa Albertina, que hoje nos
pertence, permitiram sem contestação a construção dessa teoria abominável? A realidade
está, literalmente, nas ruas de Campina do Monte Alegre, onde a avenida principal tem o
nome de nossa família e a escola estadual chama-se RENATO ROCHA MIRANDA, sem jamais
nenhum membro da família ter feito parte da política local.

Pelo carinho e reverência que a cidade dedica à nossa família, quando de sua morte em 1997,
seus sobrinhos, eu e minha irmã, Angela, consentimos em efetuar o sepultamento de nosso
tio no pequeno cemitério local, atendendo ao pedido de diversos amigos enlutados que ele
deixou, e por sabermos que estaria melhor perto das terras que tanto amou.

Após diversas idas e vindas com a jornalista Alice Melo e a editora da revista, Viviani
Fernandes de Lima, não conseguimos marcar uma reunião para que tais argumentos fossem
expostos, só o fazendo, graças à interferência pessoal dos Drs. Jean Louis Lacerda Soares e
Sergio Chermont de Brito, respectivamente presidente e diretor da SABIN, (Sociedade de
Amigos da Biblioteca Nacional), responsável pela edição da revista, que reconheceram o
direito da família se defender, colocando-a à disposição para este direito de resposta, que se
contrapõem à citada reportagem e solicita a inserção em seu site na internet, do vídeo que
está sendo elaborado com os depoimentos dos contemporâneos de meus familiares, que nos
procuraram de livre e espontânea vontade, querendo dar seus testemunhos.

Acreditamos que, com isso, a Revista de História da Biblioteca Nacional, preservará sua boa
reputação, superando um mau momento em sua trajetória.

Mauricio Vidal Rocha Miranda

LOGOMARCA DA ANGLO-MEXICAN PETROLEUM

LOGOMARCA DA ANGLO-MEXICAN PETROLEUM

Esse foi o nome original da SHELL quando iniciou suas atividades no Brasil. Sua logomarca se assemelhava a uma cruz suástica.

Esse foi o nome original da SHELL quando iniciou suas atividades no Brasil. Sua logomarca se assemelhava a uma cruz suástica.

O uso desse símbolo era comum na década de 1920 como decoração, (vide comentário do historiador José Roitberg, publicado nesse blog) até meados de 1930 quando Hitler a adotou como símbolo de seu partido, sendo então eliminado. A empresa, em seu site, no histórico de sua logomarca, nem cita tal fato. Certamente, ao tomar conhecimento disso, a Revista de História da Biblioteca Nacional em sua busca por tiragem a qualquer custo, fará uma matéria sobre a influência nazista numa empresa holandesa que se instalou no Brasil em 1913, antevendo a ascensão do partido vinte anos depois.

Carta ao Reitor da Unicamp

Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 2012.

Ao Magnífico Reitor da Universidade Estadual de Campinas

Doutor Fernando Ferreira Costa

Magnífico Senhor Reitor.

Servimo-nos da presente para alertá-lo de um fato que poderá resultar em
um processo de reparação de danos morais contra essa Universidade, dado
o caráter ofensivo e sem o direito à contradita, da tese de doutorado do
pesquisador Sidney Aguillar Filho, apresentada à Comissão de Pós-graduação
da Faculdade de Educação desta Universidade em 2011, e da qual só agora
tomamos conhecimento.

Ao longo de toda a tese, o citado pesquisador acusa a família Rocha Miranda, à
qual pertencemos, proprietária à época das fazendas Santa Albertina e Cruzeiro
do Sul, respectivamente nos municípios de Buri e Paranapanema no estado de
São Paulo, de terem se utilizado de práticas eugenistas e escravocratas com
menores negros levados de um orfanato do Rio de Janeiro. Faz associação
de tais práticas com o nazismo, na forma como hoje o conhecemos, dando a
entender que membros de nossa família abrigavam atividades de um núcleo
nazista no interior do estado de São Paulo, o que fortemente repudiamos.
Impressiona a leviandade com que foi aceita pela orientadora Ediógenes
Aragão Santos as acusações à nossa família sem exigir a contradita, obrigatória
nesses casos. Mais espantosa ainda foi a aceitação passiva da Comissão de
Pós-graduação sem nenhum questionamento quanto ao achaque sem defesa
possível feita pelo autor da tese. A indicação da citada tese pela Faculdade
de Educação dessa Universidade ao prêmio Capes de teses, revelará a
superficialidade dessa comissão ao indica-la para tal premio.

Temos diversos depoimentos de pessoas que conviveram e trabalharam à época
com os “acusados” de nossa família, que nos procuraram espontaneamente,
revoltados, ao tomarem conhecimento das acusações, e não hesitaremos em
leva-los aos tribunais, se necessário for, para defender-nos do sensacionalismo
que tal tese provocou.

O fato em questão nos remete à lembrança do caso da Escola Base de São
Paulo, em março de 1994, onde uma família foi injusta e levianamente acusada,
tendo posteriormente sido constatada sua total inocência, porém com danos
irreparáveis.

A família Rocha Miranda espera deste Magnífico Reitor que não permita que
a credibilidade desta Universidade seja tisnada por um trabalho claramente
sensacionalista e oportunista, que visa tão somente os holofotes da imprensa,
sem a acurácia de uma pesquisa séria.

Atenciosamente.

Mauricio Vidal Rocha Miranda